Empresas no Brasil estão barrichelando na internet

Um novo verbo vem sendo usado para definir o ato de comentar coisas por último ou que todo mundo já sabe: barrichelar (pronuncia-se barriquelar). Numa referência pejorativa ao piloto Rubens Barrichello, que virou ‘meme’ na internet (se você ainda não sabe o que é meme, pare de ler este artigo agora). Voltando ao neologismo barrichelar, inclusive, nesse momento, posso estar barrichelando. Ou seja, dizendo algo que todo mundo está cansado de saber. Afinal, na internet é tudo cada vez mais rápido.

Vivemos numa época em que não existem mais segredos e onde nada é mais novidade para ninguém. Sendo assim, contar uma história nova que ninguém nunca ouviu é um desafio cada vez mais inalcançável até mesmo para a ficção. A impressão que se tem é de que tudo já foi dito e divulgado à exaustão porque sempre que alguém abre a boca para tentar contar uma novidade vem outra pessoa e diz: isso é velho! Mesmo que estejamos falando de algo que acabou de acontecer.

Não é pra menos, enquanto você lê este texto, mais de 1,23 bilhão de pessoas no mundo estão postando toneladas de bits de informações em forma de vídeos, fotos, textos, etc, isso apenas no Facebook. Isso sem contar as curtidas (likes) dos posts, os comentários e os comentários dos comentários. Quem nunca passou pelo constrangimento de estar contando uma “notícia velha” levanta a mão o/. Quando se trata de profissionais da informação, da notícia, esse constrangimento beira o absurdo. A necessidade de ser cada vez mais veloz tem matado muita gente antes da hora. Mas a maior vítima desse excesso de velocidade no qual a informação anda viajando é, sem dúvida, a credibilidade. Na ânsia de sair na frente, contar primeiro, muitas notícias são dadas com “defeito de fabricação”, cabendo ao leitor a tarefa de checar a veracidade dos fatos porque muitas vezes nada é o que se parece ser.

Em contrapartida, um levantamento recente realizado pela agência de relações públicas Imagem Corporativa, publicado esta semana pelo jornal O Estado de S. Paulo, aponta que as salas de imprensa dos sites das empresas brasileiras têm pouco a dizer. De acordo com o estudo – que analisou sites das 100 maiores empresas brasileiras – o leitor pode entrar e sair dessa seção no site sem ter acesso a informações básicas sobre as companhias. Das 100 salas de imprensa analisadas, apenas 63 traziam contatos telefônicos dos responsáveis pelo atendimento à mídia.

A pesquisa também detectou que 44% das empresas incluídas no levantamento fazem menos de uma atualização por mês das informações contidas na sala de imprensa dos seus sites. Isso quer dizer que, se a pessoa estiver em busca de informações recentes sobre as corporações, não irá encontrá-las na seção dedicada a informações para a imprensa, o que é uma contradição, para dizer o mínimo.

De acordo com o estudo, apenas 4% das empresas pesquisadas atualizam diariamente as salas de imprensa dos seus sites. Para usar a expressão que iniciou este artigo, podemos concluir que empresas brasileiras estão “barrichelando” quando se trata de comunicar suas notícias e histórias relevantes nos seus sites.

Artigo publicado no na edição do dia 06/08/2014 do jornal Correio.

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