Aspectos da convergência jornalística em empresas informativas brasileiras

Suzana Barbosa

As base de dados são agentes centrais para assegurar redações cada vez mais integradas e operando segundo a lógica desse jornalismo convergente.

As funções que as base de dados desempenham no processo de convergência:

  • Sustentar a produção e a distribuição dos conteúdos
  • Integrar distintas plataformas (impresso, TV, rádio, web, móveis, entre outras)
  • Gerenciar o fluxo de informações e o conhecimento nas redações
  • Suportar ações de interação que envolvam usuários e profissionais através do conteúdo informativo e de entretenimento
  • Armazenar, classificar, relacionar, recuperar e apresentar as informações

Tais funcionalidades perpassam as quatro dimensões da convergência jornalística (Ramon Salaverría, José Alberto García Avilés e Pere Masip (2007):

  • Tecnológicarefere-se à infraestrutura técnica (computadores, servidores, câmeras gravadores, softwares inteligentes, etc) para garantir a produção (redação integrada), a difusão cross-media e a produção.
  • Empresarialdiz respeito aos próprios grupos sejam nacionais, multinacionais, regionais, locais e às alianças, fusões e absorções ou novas empresas que resultam dessas fusões.
  • Profissionalocorre quando eu uma redação unificada ou em redações independentes de distintos meios trabalhando em cooperação, se elaboram conteúdos e produtos para mais de um meio adaptados de acordo com as linguagens específicas de cada um e se realiza e distribuição para distintas plataformas. Abarca a produção integrada, jornalistas polivalentes e distribuição multiplataforma.
  • De Conteúdosignifica explorar a hibridização de gêneros jornalísticos e a linguagem multimídia para a criação de peças informativas mais inovadoras.

Mais duas foram agregadas por Sádaba 2008:

  • Meios – cada um possui sua linguagem e características específicas.
  • Audiências – é incluída para enfatizar a importância da participação ativa do público, que deve ser envolvido através dos canais de interatividade.

No sentido tecnológico, a convergência de matriz digital uniu a informática, as telecomunicações e a microeletrônica, permitindo que Novas Tecnologias de Informação e Comunicação surgissem como interligadoras dotando dispositivos de múltiplas funções.

 

 

CONCEITOS, MODELOS, ASPECTOS E CARACTERÍSTICAS

DA CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA

Convergência jornalística é um processo sujeito a gradações e em evolução contínua.

Embora o fator tecnológico seja primordial nos processos de convergência jornalística, ele não é o único elemento que irá desencadeá-lo.

A convergência jornalística é um processo multidimencional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta o âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação propiciando uma integração de ferramentas, espaços e métodos de trabalho e linguagens anteriormente desagregados, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que são distribuídos através de múltiplas plataformas, mediante as linguagens próprias de cada uma (Salaverria, Masip, García Avilés, 2007:20)

Características:

  • A integração entre meios distintos. A produção de conteúdos dentro do ciclo contínuo 24/7
  • Reorganização das redações
  • Jornalistas que são plataform-agnostics, isto é, capazes de tratar a informação – a notícia – de maneira correta para que seja distribuída no impresso, na web, nas plataformas móveis, etc.
  • A introdução de novas funções além de habilidades multitarefas para os jornalistas
  • Comunidade/audiência ativa atuando segundo o modelo Pro-Am (profissionais em parceria com amadores).
  • Emprego efetivo da interatividade, do hipertexto e da hipermídia para a criação de narrativas jornalísticas originais.

A convergência jornalística, também denominada como integração de redações ou redações multimídia, é um processo em constante evolução e já está em curso em diversas empresas informativas ao redor do mundo.

Lawson-Borders (2006:74) localiza a versão moderna de convergência sendo empregada por um grupo de comunicação em 1993, sendo pioneiro a Tribune Company (Chicago/EUA).

Década de 2000, a convergência desponta em empresas informativas com força, sendo indicada como mandatória para grupos de comunicação, tanto como elemento para favorecer a inovação dos processos de gestão e distribuição de conteúdos, como oportunidade para renovar o jornalismo e colocá-lo frente às demandas do século XXI (Salaverría 2003, 2005, 2007).

Saad Corrêa (2008b) As empresas informativas têm vivenciado uma onda de reconfiguração liderada pela integração de diferentes redações especializadas num único espaço multimídia de produção de conteúdos para múltiplas plataformas/audiências.

Por outro lado, em nome da convergência, há também empresas que a adotam como modelo de negócio para a redução de custos, eliminação de postos de trabalho ou mesmo estratégia para sobrevivência diante da crise econômica que vem atingindo a indústria de jornais mais diretamente.

De acordo com o Innovation Media Consulting Group a integração de redações é uma estratégia de crescimento. O princípio número um na estratégia de convergência do Innovation diz: “A integração não é apenas uma maneira para economizar dinheiro. É uma maneira para investir no futuro. É uma estratégia de crescimento para produzir melhores produtos. Melhor jornalismo. Em um modo mais eficiente”.

Um levantamento realizado em 2008 pelo World Editors Forum e World Association of Newspaper com entidades parceiras, revelou que entre 704 editores e executivos sênior de 120 países de todos os continentes, 86% concordavam que a integração de redações ou a redação multimídia será a norma dentro de cinco anos. Apenas 3% discordaram.

Já um estudo sobre a integração de redações na AL, realizada com responsáveis pelas edições web de 43 meios dos jornais mais importantes da AL, indicou que 74% dos meios planejavam integrar as redações impressa e on-line em curto, médio ou em longo prazo (Franco, Gúzman, 2007). Naquela altura, 4% das redações estavam integradas. Do Brasil, apenas dois meios participaram: a Rede Brasil Sul (RBS, Rio Grande do Sul) e O Globo.

Entre os argentinos, La Nacion e Clarin anunciaram a integração em agosto de 2008, cada um adotando o modelo mais conveniente à sua realidade e enfrentando a resistência por parte de alguns profissionais contrários à convergência.

No La Nacion, a integração efetiva foi planejada para ocorrer numa segunda etapa apor o trabalho de recompilação de informações de casos de integração de redações ao redor do mundo. Entretanto os jornalistas da redação do on-line já trabalhavam no mesmo espaço que os profissionais do impresso, porém sem muita sinergia.

No Clarin, o elemento principal da estratégia de convergência é a redação mutimídia com uma mesa central denominada “H” (por ter a forma dessa letra), na qual sentam o editor geral, o subeditor geral, os editores-chefes e alguns secretários de redação.

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