A CONVERGÊNCIA NOS PERIÓDICOS: É PRECISO TER CAUTELA

Suely Temporal

 

Ao finalizar a leitura do texto de Plácido Moreno e o de Charo Sádaba, Idoia Portilla, José Alberto Garía Avilés, Pere Masip e Ramón Salaverria[1], concluímos que é preciso ter prudência no processo da convergência dos meios. Isto porque ainda não existe um consenso a respeito do conceito de convergência. E esta dificuldade afeta tanto os meios acadêmicos quanto profissionais. A literatura acadêmica apresenta definições mais sistêmicas de convergência que abarcam diversas esferas dos meios de comunicação, portanto, tendem a ser mais amplas e multidimensionais. Já as definições profissionais tendem a ser mais reducionistas, pois esbarram nos aspectos logísticos e de funcionamento das redações e dos processos de produção.

Plácido classifica esse processo como mais como evolução do que como uma revolução. Ele destaca que apesar de todas as possibilidades que a tecnologia pode oferecer à indústria editorial tradicional, a mente dos jornalistas não é como a de um robô que se adapta facilmente às novas necessidades editoriais de um dia para o outro devido, entre outras razões ao risco inerente de assumir mudanças em produtos de colaboração diária como é um jornal. Por isso, recomenda observar com cautela o aproveitamento das vantagens dos novos suportes para publicação e distribuição da informação. Segundo ele, as novas formas de tratar a informação, determinadas por novos suportes com suas próprias narrativas e mudanças de hábitos de consumo da informação requerem constantes adaptações empresariais e necessitarão de programas de formação cross-media permanente para os jornalistas que trabalham em periódicos convergentes.

Ele também ressalta que a formação deve ser considerada como uma atividade imprescindível para o adequado desenvolvimento dos profissionais que atuam nos meios que desejam assumir estratégias orientadas para a convergência. Será exigida, no âmbito acadêmico, maior especialização tecnológica e organizacional em seus currículos com apostas claramente orientadas para a simulação de ambientes redacionais reais nas aulas ou em laboratórios multimídia, fruto de acordos entre universidades e empresas. Se isso não acontecer, o profissional já chegará ao mercado desatualizado.

Ficou clara ainda a importância que tem o estabelecimento de relações ativas entre a universidade, os jornais impressos e a indústria de conteúdos digitais que deve constituir-se em um elemento diferencial para a formação de profissionais e estudiosos da Comunicação nas próximas décadas. Para isso deve estudar-se a gestão das mudanças nas empresas jornalísticas como um elemento dinamizador que facilite o salto de um jornalismo monomidiático para um tipo de jornalismo multimidiático. Assim, pode-se afirmar que o jornalista não só deve saber escrever como também deve saber utilizar e compreender os meios técnicos de sua época. Vigil y Vásquez, autor da obra O Jornalismo ensinado Hoje confirma que, além da sua máquina fotográfica, o jornalista deve saber manejar o gravador, o vídeo cassete, etc. Parece evidente que apenas a partir de uma firme, progressiva, exigente e continuada formação em convergência de meios (tecnologia e gestão de negócios), os futuros jornalistas poderão assumir os desafios que constantemente aparecerão em sua profissão. Sem dúvida se pode considerar que os novos meios exigem jornalistas pluridisciplinares com uma marcada característica proativa na exploração de novos meios e produtos editoriais e nos suportes de distribuição (geradores de conteúdo). Os novos meios presentes e futuros exigirão jornalistas a frente dessas novas empresas que aglutinem um forte selo como gestores de empresa (formação de pós-graduação com MBA ou doutores especializados em convergência); capacidade para gerir projetos com ferramentas de informática e capacidade para analisar as variáveis do negócio; tudo isso unido a um delicioso cumprimento de práticas profissionais corretas em conteúdo e forma, cumprindo com os princípios mais tradicionais da deontologia profissional da formação jornalística.

Nesta mudança, não existe um consenso se todos terão que se familiarizar com os equipamentos que antes eram manuseados pelos técnicos da equipe. Segundo esta obra, a principal tendência detectada neste entorno altamente técnico é a de aproveitar ao máximo o potencial que oferecem os conteúdos nos diferentes suportes de publicação, porém evitando ao máximo a excessiva vinculação no âmbito técnico do jornalista que faz uso dos elos.

Assim, a tendência das empresas editoriais de sofisticar cada vez mais os sistemas de gestão dos conteúdos digitais tanto para o suporte papel, quanto para outros suportes deve ser inversamente proporcional ao conhecimento técnico exigido do jornalista no desempenho da sua própria função: informar. A tendência hoje, na maior parte dos sistemas editoriais é oferecer ao jornalista a possibilidade de publicar seus conteúdos da forma mais simples possível em diversos formatos de saída: papel, e-paper, web, alerta web, móbile, etc, incluindo também difusão de conteúdo em redes sociais, dando-lhe opções de inclusão de material multimídia e acesso local e remoto a serviços de documentação e de agência que se integram com o mesmo sistema editorial. Ao mesmo tempo em que esses sistemas incorporam sistemas precisos de planejamento, distribuição de tarefas, integração de anúncios e produção que facilitam tecnologicamente o caminho até a convergência estrutural.

Ademais, em outras ocasiões se exige dos jornalistas que dediquem uns minutos do seu tempo para algo fundamental como adicionar os elementos que descrevem as fotos para os textos que se incluem no sistema e que permitirão acumular automaticamente informações nas bases de dados  acumulando informações de forma ordenada sobre diversos repositórios, como antes havia explicado, para permitir seu posterior acesso e distribuição a novas plataformas de forma ordenada e flexível.

Uma vez no sistema, cada conteúdo pode ter seu fluxo de trabalho diferente e saídas diferentes. De fato, a criatividade na geração de informações cross media pode ser incrementada uma vez que o jornalista tenha pleno controle instrumental na hora de informar, graças ao sistema de gestão de conteúdos editoriais. Esses sistemas permitem a criação de diferentes edições não apenas em papel, mas também para a distribuição de conteúdo on line ou móveis, dependendo dos picos de consumo da informação em versões digitais.

Que tipo de formação se busca quando se contrata jornalistas e se pergunta se são capazes de gerar conteúdo para múltiplos meios? Basicamente se exige uma transição na forma de pensar e fazer jornalismo. As tendências apontam que as empresas editoriais estão buscando perfis que apresentem conhecimentos técnicos como premissa para a contratação.

Em Métodos de Investigación sobre Convergência Periodista, Charo Sádaba, Idoia Portilla, José Alberto Garía Avilés, Pere Masip e Ramón Salaverria apontam que os estudos técnicos sobre a convergência jornalística têm se desenvolvido a partir de três escolas diferentes e até certo ponto consecutivas: convergência como confluência de tecnologias, convergência como sistema e convergência como processo. A primeira, definida por Castells (2001), De Sola Pool (1999), Filder (1997) e Negroponte (1979, 1996), corresponde às primeiras definições de convergência que a identificam com a combinação de códigos lingüísticos diferentes, fruto do processo de digitalização. A segunda, definida por Flynn (2000), Gordon (2003), Jenkins (2001), Klinenberg (2005) e Singer (2004), corresponde aos estudos que enfatizam a característica sistêmica da comvergência, definindo-a como um fenômeno complexo e multidimensional que abarca diversas esferas – tecnológica, empresarial, profissional, lingüística, etc… – interconectadas entre si. Por último, a terceira, definida por Applegren (2004), Dailey et al. (2003), Demo, Spillman (2005) e Lawson-Borders (2003), que admite o caráter sistêmico da convergência jornalística mas destacam que para se fazer o adequado estudo empírico da convergência, deve-se conceber a convergência como um processo sujeito à gradações.

[1] Plácido Moreno e o de Charo Sádaba, Idoia Portilla, José Alberto Garía Avilés, Pere Masip e Ramón Salaverria.

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